Para ler depois da meia-noite
À Madalena minha cunhada
Etelvina minha amiga
Fecha as portas a PIC está a porta
Ponha a rede mosquiteira e vem cá dormir
Amanhã é dia!
Se por ventura por engano alguém bater a porta
Não abra
Deve ser o vizinho do lado
E por uma questão de precaução
Não liga para a FIR
Não liga para os bombeiros
Não liga para esquadra mais próxima
Não te esqueças que estamos sitiados
Os homens da SISE devem estar aqui por perto
Ao nosso redor
Sentes o fedor do vulto?
Etelvina minha amiga
Apague as luzes
Deixa o rádio tocar para ouvir notícias da Manhã
Sabes que o H. dos Santos nosso camarara foi preso
Foram os mesmos que mataram menino Hélio nosso colega de carteira
Agora Etelvina minha amiga
Vamos embora daqui
As notícias da Rádio não são nada boas
Vamos morrer a qualquer instante
Vamos pegar a estrada do norte até Montepuez
Lá teremos um carro para nos levar a Tanzânia
Nosso local de luta armada.
Não leve nenhuma trouxa
Pode ser pesado
Para evitar os crocodilos do Zambeze
Vamos via Malawi
Lá teremos o Kamuzu Banda como guarida por alguns dias
As espingardas kalashnikov virão depois
Com os outros companheiros nossos que ficaram na retaguarda
A marcha é longa
Etelvina minha amiga
Dê um beijinho à sua mãe e um abraço a seu pai
Voltaremos depois da luta
Não vai durar tanto tempo
Também seremos antigos combatentes
Seremos senhores do primeiro tiro
Generais na reserva
Etelvina minha amiga
Fecha as portas a PIC está a porta
Ponha a rede mosquiteira e venha cá dormir
Amanhã é nosso dia de luta!
As armas estão prontas?
Rafael da Câmara