13/12/2016
12/12/2016
Armando Guebuza desresponsabilizou-se das Garantias dadas pelo seu Governo, violando a Constituição de Moçambique, e apelou ao seu passado de libertador para afirmar a sua idoneidade

Armando Emílio Guebuza foi ouvido no passado dia 28 pela Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) que está a investigar as dívidas das empresas Proindicus, Empresa Moçambicana de Atum(EMATUM) e Mozambique Asset Management(MAM). O @Verdade publica na íntegra os esclarecimentos do antigo Presidente de Moçambique que, mais do que esclarecer os contornos destes empréstimos que foram secretamente contraídos, desresponsabilizou-se das Garantias dadas pelo seu Governo violando a Constituição e apelou ao seu passado de libertador para afirmar a sua idoneidade.
Viemos a esta Comissão Parlamentar de Inquérito, conforme vossa notificação, não obstante suscitar-se uma questão de interpretação da lei, relativamente ao que dispõe o artigo 16 da Lei n° 5/2005, de 1 de Dezembro, que regula a organização do Conselho de Estado e define o estatuto dos seus membros.
Com efeito, tendo a Comissão de Inquérito poderes de autoridade judiciária, nos termos do artigo 96 da Lei no 17/2013, de 12 de Agosto, que aprova o Regimento da Assembleia da República, combinado com o disposto no no 3 do artigo 2 da Resolução no 16/2016, de 1 de Agosto, gozando as comissões de inquérito de poderes de investigação próprios das autoridades judiciárias, entendemos que a nossa vinda deveria ter sido precedida de prévia autorização do Conselho do Estado.
Muito novo abandonei a família para me juntar à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em Dar-Es-Salaam. A caminho, fui preso, devolvido ao país e enviado à cadeia a mando da temível PIDE. Depois de sair, de novo fugi para me juntar à FRELIMO, para combater e libertar a Pátria. É pela Pátria e com o mesmo sentido de Pátria que hoje vivo.
Quando em 2 Fevereiro de 2005 prestei juramento, segundo o qual: juro por minha honra respeitar e fazer respeitar a Constituição, desempenhar com fidelidade o cargo de Presidente da República de Moçambique, dedicar todas as minhas energias à defesa, promoção e consolidação da Unidade Nacional, dos direitos humanos, da democracia e ao bem-estar do povo moçambicano e fazer justiça a todos os cidadãos, juramento este que foi repetido em Janeiro de 2010, estava ciente da nobre responsabilidade que representava a função de Presidente da República, como Chefe de Estado e garante da Constituição, Chefe do Governo e como Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança e não era para mim um juramento de ânimo leve.
O exercício do cargo de mais Alto Magistrado da Nação requer fazer funcionar os órgãos colegiais, assim como requer a capacidade de acção dos dirigentes aos vários níveis, então nomeados por mim, com os quais, como timoneiro tenho o dever de solidariedade com os seus actos praticados no exercício da acção governativa.
Na verdade, constitui motivo de orgulho para mim e para os meus colegas do Governo, o trabalho realizado nos dois mandatos presidenciais. Os resultados eleitorais do segundo mandato, bem como, os resultados colhidos (nomeadamente o crescimento económico, visível na rápida expansão de infraestruturas e índices macroeconómicos sustentáveis - estávamos a citar V.Excias no introito da pergunta nº 8) nesse período, são produto de dedicação dos dirigentes a todos os níveis e, sobretudo, da colaboração sempre saudável do maravilhoso povo moçambicano.
Na minha qualidade de Comandante-Chefe das Forças Armadas de Defesa e Segurança, tomei decisões estratégico-militares, quer no contexto da prevenção, quer no contexto da operacionalização do funcionamento das diversas unidades e sub-unidades que, em circunstância alguma, podem ser partilhadas fora desse contexto, em respeito ao juramento à bandeira. Assim, em resposta às perguntas formuladas, no âmbito da averiguação da situação das dívidas contraídas pelas empresas EMATUM, SA, MAM, SA e PROINDICUS, SA, tenho a grata honra de dizer o seguinte:
Pirataria e Renamo como justificação para às dívidas secretas
PERGUNTA DA CPI: Em que contexto e quais foram os pressupostos que ditaram a criação das empresas EMATUM, PROINDICUS e MAM e a contração das dívidas? Qual é o enquadramento dessas empresas na política da defesa nacional?
A história ensina-nos que a pirataria marítima é um ilícito de duração secular. Dentre os vários factores, possíveis de ser apontados, como propiciadores ou catalisadores da pirataria marítima, salta-nos à vista a falta de recursos financeiros para a aquisição de meios de protecção e patrulhamento marítimo, e formação técnico-humana.
A emergência de novos centros de poder económico, por força do crescimento da economia asiática, tornou o Oceano Índico uma rota apetecível e viável para o transporte marítimo de carga.
A Somália, carente de um poder político estável e de instituições que o conformem, e de meios humanos e técnicos, tem sido palco desde 2006 do recrudescimento da pirataria marítima ao longo da sua costa. Essa pirataria estendeu-se vertiginosamente a norte e a sul das águas daquele país.
É preciso recordar a V. Excias que Moçambique tem uma linha de costa à volta de 2. 700 quilómetros, para além de várias ilhas que fazem parte do nosso território nacional, o que nos torna expostos a incursões dos piratas marítimos e do terrorismo nacional.
O sequestro da embarcação de pesca da empresa Pescamar, Vega 5, praticamente ao largo da costa de Inhambane, no dia 27 de Dezembro de 2010, com cerca de 24 tripulantes, entre moçambicanos e estrangeiros, é disso um facto demonstrativo.
A par destes casos de pirataria, Moçambique tem um histórico, nos últimos tempos, de imigração ilegal contrabando de madeira, pesca ilegal e tráfico de drogas, males com efeito, negativo, na economia e na balança de pagamentos do país.
Moçambique vive desde 2011/2012 uma instabilidade política e militar protagonizada pela Renamo.
Com efeito, o líder da Renamo abandonou a cidade de Maputo, capital do país, tendo se estabelecido na cidade de Nampula, tendo sido, essa sua deslocação acompanhada por um crescendo no seu discurso de desestabilização política, com várias ameaças à integridade territorial.
Ao mesmo tempo, foi-se assistindo, ao longo de várias partes do país, à mobilização dos homens armados da Renamo, tendo sido congregados em algumas das suas sedes por longos períodos de tempo.
Em particular, na sede da Renamo em Nampula, e à volta da residência do líder da Renamo, na Rua das Flores daquela cidade, verificava-se a presença de elevados contingentes de homens armados da Renamo.
Todas essas movimentações culminaram com algumas confrontações entre esses homens armados e as Forças de Defesa e Segurança, com realce para as que se verificaram na sede da Renamo em Nampula.
Vários porta-vozes da Renamo, para além das declarações incendiárias do seu líder, anunciavam a intenção de criar quartéis, incluindo o que chamavam quartéis-generais.
Entretanto, o líder da Renamo abandona Nampula e vai fixar-se nas imediações da serra da Gorongosa, a partir de onde se observa a escalada do discurso intimidatório e desestabilizador.
É nesta senda que a Renamo assaltou o paiol militar de Savane, na província de Sofala, no dia 17 de Junho de 2013, matando cinco jovens das nossas Forcas Armadas e assaltando material de guerra.
A Renamo declarou “guerra”, pela voz do deputado e brigadeiro da Renamo Jerónimo Malagueta, no dia 19 de junho de 2013, o que foi seguido de uma série de ataques ao povo moçambicano, às unidades das FDS, instalações e bens públicos e privados.
O próprio líder da Renamo, em declarações à imprensa, não se coibiu de declarar que havia mandado assassinar moçambicanos, civis e militares.
Face a isso, impunha-se por parte das FDS o dever constitucional de proteger pessoas e bens.
Numa altura que decorriam no país, na costa norte, em Cabo Delgado, distrito de Palma, acções de prospecção e pesquisa de hidrocarbonetos.
Acções que envolvem no seu funcionamento uma estrutura de custos muito elevada e requerem, por isso, um quadro de condições, dentre elas a segurança de alto nível, sem comprometer a soberania de Moçambique.
Nesse período, a ENI e a Anadarko contrataram serviços de segurança privada e estrangeira, quando esta nobre missão era das FDS ou atribuível a empresas com ligações umbilicais a elas.
Assistimos igualmente o recrudescimento de manobras subversivas protagonizada por meios electrónicos que escapavam ao controlo das nossas autoridades.
Na verdade, para dar resposta a estes novos desafios, tivemos que tomar medidas de natureza estratégico-militar.
PERGUNTA DA CPI: Qual foi o papel de V. Excia como Chefe de Estado, na constituição das empresas EMATUM, PROINDICUS e MAM, na contração dos respectivos financiamentos e na prestação e garantias do Estado?
Seria difícil encontrar uma intervenção específica do Chefe de Estado na constituição de empresas por tal matéria ser do domínio operacional. O Presidente da República, na sua qualidade de Titular do poder Executivo recebe as informações e relatórios dos responsáveis dos pelouros e em função disso dá as devidas recomendações.
PERGUNTA DA CPI: Na visão de V. Excia para a operacionalização do Sistema Integrado de Monitoria e Protecção da Zona Económica Exclusiva, qual seria a repartição de responsabilidades, funções e atribuições entre as Forças Armadas, a Polícia, o SISE e as três empresas referidas nos parágrafos anteriores?
A Proindicus, SA é uma empresa das Forças de Defesa e Segurança (FDS), tendo como principal objectivo a protecção da Zona Económica Exclusiva de Moçambique.
Tendo presente que a actividade de monitoria e segurança da Zona Económica Exclusiva é atribuição das FDS, no seu todo, enquadrada na salvaguarda da soberania nacional, integridade territorial e inviolabilidade das fronteiras, a actuação entre as empresas e as FDS é feita com base num princípio de colaboração mútua entre os intervenientes, visando criar as condições que garantam a operacionalização do Sistema Integrado de Monitoria da Zona Económica Exclusiva.
Quanto ao resto, abstemo-nos do detalhe por se tratar de matéria de natureza estratégico-militar.
PERGUNTA DA CPI: Sendo prática em Moçambique o licenciamento de empresas de segurança privada pelo Ministério do Interior, não teria sido aconselhável que esse Ministério fosse envolvido na tutela da Prolndicus?
A Proindicus, SA é uma empresa cujo objecto social tem em vista gerar receitas para as FDS, sendo a principal actividade prestar serviços de monitoria e protecção às empresas licenciadas para a prospecção e exploração de hidrocarbonetos ao longo da Zona Económica Exclusiva de Moçambique e na plataforma continental.
A estrutura accionista da Proindicus comporta a Monte Binga, SA (empresa do Ministério da Defesa Nacional) e GIPS- Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, SA (empresa dos Serviços de Informação e Segurança do Estado), na proporção de 50% para cada. A não participação de uma empresa ligada ao Ministério do Interior na estrutura accionista da Proindicus deveu-se ao facto de a empresa desse Ministério ter estado a passar por um processo de reestruturação na altura.
Entretanto, sendo o Ministério do Interior parte das FDS, no seu todo, participa com a Proindicus na salvaguarda da soberania nacional, integridade territorial e inviolabilidade das fronteiras com base no princípio de colaboração mútua entre os intervenientes, visando criar condições que garantam a operacionalização do Sistema Integrado de Monitoria da Zona Económica Exclusiva.
“Em toda a nossa governação tivemos sempre como preocupação a observância da Constituição”
PERGUNTA DA CPI: O antigo Ministro das Finanças, Dr. Manuel Chang, assinou contratos de garantias do Estado muito acima do limite autorizado pela Assembleia da República, nas Leis Orçamentais do Estado de 2013 e 2014. Que mandato específico do Governo teve para o efeito?
Com base em princípios de ética, na minha qualidade de antigo Presidente da República, não posso, em consciência, em sede de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, fazer juízos de valor sobre actos praticados pelos meus antigos colaboradores. Por outro lado, os membros do Governo são solidários nos actos praticados por qualquer dos Ministros. Posso afirmar que em toda a nossa governação tivemos sempre como preocupação a observância da Constituição e das leis.
PERGUNTA DA CPI: Como Chefe de Estado, que jurou defender, respeitar e fazer respeitar a CRM, considera que na contração da dívida para o financiamento das três empresas referidas nos parágrafos 1 e 2, foram respeitadas a Constituição e as Leis?
Estamos em presença de juízos de valor e qualquer questão que tenha que ver com juízos de valor não pode merecer, por ora, avaliação do antigo Chefe do Estado, por um lado, e, por outro lado, impõe-se realçar que tudo foi feito para a salvaguarda da soberania e integridade territorial.
Considerando os acontecimentos de 27 de Dezembro de 2010, em que piratas somalis capturaram uma embarcação de pesca com 24 tripulantes, entre moçambicanos e estrangeiros e que o impacto desta acção não se cingiu a este acto específico.
Considerando que tal acção teve repercussões negativas na indústria pesqueira que viu baixar os índices de captura, na navegação marítima no canal de Moçambique e na prospecção de hidrocarbonetos, com gravíssimos prejuízos para a economia nacional, e, consequentemente, um obstáculo para a nossa agenda nacional de luta contra a pobreza.
E, do melhor modo, com as agressões desencadeadas pela Renamo, com realce para o assassinato de civis, como as que se verificaram em Muxungue, com o assassinato de agentes das FDS, em Muxúngue, Savane e outros locais, com a destruição de equipamentos e património nacional, bem como, claramente, com intenção de uma escalada de agressão para níveis cada vez maiores.
Qualquer Governo responsável, nessas condições, acredito que agiria como nós o fizemos, e, se tivéssemos que estar nas mesmas condições e para tomar as mesmas decisões, considerando o circunstancialismo descrito naquele momento, nós faríamos justamente da mesma maneira hoje, em defesa da Pátria Amada e do maravilhoso povo moçambicano.
Importa recordar que aquando do sequestro do Vega 5, em que embarcações piratas lograram progredir até à costa de Inhambane, onde aquela embarcação se encontrava em plena faina, vários quadrantes da sociedade moçambicana, com realce para a imprensa e sociedade civil; questionaram como é que um país como o nosso carecia em absoluto de uma capacidade militar para fazer face a actos daquela natureza para salvar as vidas de compatriotas, bem como de equipamento valioso para a economia nacional, como é o caso de uma embarcação de pescas.
“Eu e o Governo que dirigi fizemos tudo para garantir a ordem e segurança públicas, bem como, a integridade territorial”
PERGUNTA DA CPI: A Comissão Parlamentar de Inquérito para averiguar a situação da dívida pública constatou que houve elevado secretismo na criação das empresas Prolndicus e MAM e a contração das respectivas dívidas. O que terá levado a que este assunto fosse tratado com tão elevado grau de secretismo?
A idealização, concepção e contratação dos empréstimos visando adquirir meios destinados a operacionalizar o objectivo pretendido foi feita de forma sigilosa, em função de informação classificada, na posse das FDS, sobretudo, os Serviços de Informação e Segurança do Estado(SISE).
E tratando-se de uma questão de natureza estratégico-militar, não podia ser partilhada.
PERGUNTA DA CPI: Senhor Presidente: uma das frases lapidares que marcaram a sua Presidência foi: "Moçambique já não é um país de que se fala, mas sim um país com que se fala". Esta convicção era adensada pelo alto nível de crescimento económico visível na rápida expansão de infraestruturas e em índices macroeconómicos sustentáveis. Hoje por causa da Dívida Pública a situação do país alterou-se negativamente, em parte pela reacção dos parceiros bilaterais e multilaterais, instalando-se um ambiente sombrio no desenvolvimento do país. Como acha que a situação da dívida terá contribuído para este cenário negativo na vida do país?
Mais uma vez estamos em presença de juízos de valor, para o que abstemo-nos de qualquer consideração.
Temos, no entanto, a convicção de que eu e o Governo que dirigi fizemos tudo para garantir a ordem e segurança públicas, bem como, a integridade territorial do nosso país, paralelamente, ao crescimento económico, tanto nas zonas rurais, como nas zonas urbanas, e, nos orgulhamos de termos introduzido e incrementado um sistema de empoderamento dos moçambicanos com a introdução dos sete milhões de meticais.
E temos a plena convicção de que Moçambique continua a ter condições para crescer e para propiciar cada vez melhores condições de vida ao nosso maravilhoso povo. Para mim e os meus colegas do Governo, o crescimento económico estava indissociavelmente ligado à defesa da soberania, à estabilidade política e à segurança de todos os moçambicanos.
Demos como prioridade a produção de comida e o combate ao desemprego com o incremento do empoderamento local, tendo em conta três indicadores estruturantes: o investimento, o consumo e as exportações, o que, em consequência, contribuiu para o crescimento da economia, para o combate à pobreza e para a elevação da auto-estima de cada moçambicano.
11/12/2016
05/12/2016
Nosso Banco” é um caso criminal
Analisando o documento, a primeira conclusão a que se chega é, mais ou menos, aquilo que escrevemos na semana passada, aqui neste mesmo espaço, sobre a responsabilidade do Conselho da Administração do Banco de Moçambique – do mandato de Ernesto Gove – no escândalo.
O relatório lavrado pela Supervisão Prudencial do Banco de Moçambique é datado de Setembro de 2015 e levanta questões de gestão gravíssimas, principalmente as ligadas à carteira de crédito. O próprio Banco de Moçambique assume, na nota introdutória, que aquela actividade de inspecção aconteceu quatro anos depois do último acompanhamento feito às actividades do “Nosso Banco”, ou seja, a última vez que lá tinham estado, em actividade similar, foi em 2011. Uma actividade de acompanhamento, que deveria ser rotineira, foi realizada após terem decorrido quatro anos.
Os problemas foram-se acumulando e com as palmadinhas do próprio Banco de Moçambique.
A situação descrita pelo relatório da inspecção de 2015 já mostrava claramente que já não existia um Banco, mas, sim, uma associação para delinquir, e graças aos maus ofícios do Banco de Moçambique.
Toda a gente que foi assistindo à grande farra no “Nosso Banco”, desde os tempos do Banco Mercantil de Investimentos, continua a ocupar os seus cargos no Banco de Moçambique.
A questão é: por que razão o Banco de Moçambique não intervencionou na altura o “Nosso Banco”, a fim de salvaguardar os interesses dos depositantes e, acima de tudo, o interesse do Estado, que era maior accionista do negócio? O diploma ministerial que fixa em 20 mil meticais o desembolso a pagar pelo Fundo de Garantia de Depósito do Banco de Moçambique é de 21 de Setembro de 2016, ou seja: foi criado exactamente para lesar os clientes do Nosso Banco, pois já se sabia da situação daquela instituição.
Há questões graves levantadas pelo relatório da inspecção, como, por exemplo, a existência de créditos concedidos em montantes acima do solicitado e em modalidades não previstas na lista de produtos servidos pelo Banco.
Qualquer coisa como alguém ir ao Banco e contratar um empréstimo de um milhão de meticais, mas o Banco achar que o mutuário não precisa de um milhão, mas, sim, de quatro milhões, e oferece-lhe, assim mesmo, quatro milhões.
E o mutuário assina um documento a dizer que pediu três milhões e foi bafejado com quatro milhões.
Há registo de créditos concedidos e desembolsados sem contrato nem garantias formalizadas. Mais grave, o Banco, primeiro, dava dinheiro e só depois é que o mutuário ia lá formalizar o contrato de empréstimo.
Alguns dos beneficiários nunca tiveram conta nesse Banco. Ou seja: não eram clientes do banco.
Ora, digam-nos, senhores do Banco de Moçambique, se, em toda a vossa vida, já viram algum Banco que funcionasse assim? Isto, mesmo para efeitos de uso em ficção, é de difícil engenho e elaboração.
Como é que detectaram todas essas atrocidades financeiras e ainda continuaram a passar paninhos quentes na Administração do Banco?
Não acreditamos que o fizeram apenas por uma questão de desleixo.
É mais convincente dizer-se que só o fizeram porque obtinham vantagens com a forma como o Banco era gerido. Quem nos garante que, depois de terem detectado essas anomalias gritantes, também não foram lá buscar um empréstimo olímpico, sem contrato e com valores acima do solicitado, umas das grandes especialidades do Banco. Só isso é que pode explicar as razões que fizeram com que o Banco de Moçambique aceitasse essa forma de actuar.
Não encontramos outra razão.
É difícil explicar a qualquer cidadão que o Banco de Moçambique tenha detectado toda essa fraude e se tenha limitado a recomendações fúteis, sem colocar a possibilidade de responsabilização criminal dos seus gestores. A quem o Banco de Moçambique pretendia proteger, ao congelar um relatório tão grave como este?
Na nossa modesta opinião, há, aqui, uma acção deliberada, por parte do Banco de Moçambique, para continuar a perpetuar as acções que vinham sendo levadas a cabo pelos gestores do “Nosso Banco”. E o Banco de Moçambique sabia perfeitamente que toda esta farra estava a ser financiada por fundos públicos. Em que ficamos?
Há uma nota de intróito ao relatório que talvez abra caminho para a hipótese de uma farra conjunta entre o Banco de Moçambique e o próprio “Nosso Banco”. Os relatores do Banco de Moçambique, nomeadamente Pinto Fulane e Ciélia Massinga, proíbem, no relatório, que os administradores do “Nosso Banco” divulguem o relatório a demais pessoas, proibição que é extensível às instituições da Justiça.
“Em nenhuma circunstância deve, o Banco ou qualquer dos seus administradores ou colaboradores, revelar ou tornar público, seja de que forma for, o relatório ou qualquer parte dele.
Se por qualquer razão uma cópia do relatório for solicitada pelas autoridades judiciais, o Banco deve imediatamente comunicar ao director de Supervisão Prudencial [do Banco de Moçambique]”, lê-se no relatório.
Ora, alguém do Banco de Moçambique pode explicar-nos que tipo de macacada é essa? Ou seja, a informação contida no relatório cria mais incómodo aos funcionários do Banco de Moçambique do que propriamente aos visados do “Nosso Banco”.
Que tipo de inspecção é essa?
Na nossa modesta opinião, quem devia estar preocupado com o escândalo do “Nosso Banco” e fazer de tudo para que o relatório não saísse para consumo público deviam ser os administradores do “Nosso Banco”, porque os factos arrolados visam directamente a eles e à sua reputação e tem potencial de arruinar as suas carreiras. Mas não. Pela nota do Banco de Moçambique, fica claro que quem está aflito é o próprio Banco de Moçambique, ou seja, quem está com medo não é o ladrão que roubou. Estamos numa estranha situação em que a própria Polícia é que está com medo que se saiba que o fulano é ladrão. A Polícia está com receio de que se saiba que apanhou ou viu um ladrão. A única conclusão a que chegamos é que os inspectores têm interesses inconfessáveis nisto.
Quando até proíbem que esses documentos cheguem à Justiça, é porque os relatores sabem que eles próprios estão com problemas com a Justiça. O que é que os senhores do Banco de Moçambique temiam, se o documento chegasse, por exemplo, à Justiça? Afinal, o Banco de Moçambique não pertence ao Estado?
Por que razão temem que este documento chegue às outras instituições do Estado, após ter sido feita a inspecção?
Não será essa a prova cabal de que todo o Conselho de Administração do Banco de Moçambique beneficiou da grande farra do “Nosso Banco”? (Canal de Moçambique)
04/12/2016
OS ESCRAVOS DESCONHECIDOS (Video)
Veja aqui:
Documentário muito interessante e factual, em que alguns mitos são desfeitos, apresentado pela TVI24, sobre a História da Escravatura, desde que esta existe. São intervenientes:
Salah Trabelsi
Universidade de Lyon
Salah Trabelsi de Lyon Lumière 2 participe au programme EURESCL, programme européen de recherches sur l'esclavage. En Martinique, en mars 08, il présentait ses recherches sur la perception de l'esclavage et de l'islam. Devant notre caméra, il prend l'exemple actuel du conflit au Darfour qui aurait ses origines dans l'esclavage pratiqué les siècles passés où les rapports de domination n'auraient été abolis.
Mohammed Ennaji
Universidade de Rabat
Historien, sociologue et économiste marocain
Mohammed Ennaji est professeur à l'université Mohammed V de Rabat. Après des recherches d'histoire économique et de sociologie rurale, il investit des domaines jusque-là méconnus, tel l'esclavage dont il est l'un des pionniers dans le monde musulman avec son livre Soldats, domestiques et concubines (Balland, 1994)
Mohammed Ennaji est professeur à l'université Mohammed V de Rabat. Après des recherches d'histoire économique et de sociologie rurale, il investit des domaines jusque-là méconnus, tel l'esclavage dont il est l'un des pionniers dans le monde musulman avec son livre Soldats, domestiques et concubines (Balland, 1994)
TIDIANE N'DIAYE :
la traite orientale
L'historien Tidiane N'Diaye présente son livre "Le génocide voilé" dans l'émission "10 minutes pour le dire" diffusée sur France O le 20 mars 2008.
Thomas Vernet
Universidade de Paris
Thomas Vernet, who gained his PhD from the Sorbonne (‘Les cités-Etats swahili de l’archipel de Lamu, 1585-1810. Dynamiques endogènes, dynamiques exogènes’ - under revision for publication) is Assistant professor (maître de conférences) in pre-colonial African history at the Paris 1 Panthéon-Sorbonne. A member of the laboratoire Centre d’Etudes des Mondes Africains(CEMAf), a combined Centre National de
la Recherche Scientifique (CNRS) and Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne research group, his main field of research is the East African coast and the Western Indian Ocean ca.1500-1820, particularly the Swahili world, notably the Swahili city-states within Indian Ocean trade networks, the slave trade and slavery on the East African coast, Portuguese expansion and impact, power and social change in Swahili society, and littoral-interior relations.
IBRAHIMA THIOUB
UNIVERSIDADE DE DAKAR
Ibrahima Thioub de l'Université Cheikh Anta DIOP de Dakar participe au programme EURESCL, programme européen de recherches sur l'esclavage. En Martinique, en mars 08, il présentait les recherches sur les esclavages et les traites et leur enseignement. Devant notre caméra, il prend l'exemple actuel du conflit au Darfour qui aurait ses origines dans l'esclavage pratiqué les siècles passés où les rapports de domination n'auraient été abolis.
S. TOMÉ E PRÍNCIPE - ODISSEIAS NOS MARES E TERRAS (Corrupção na LAM)

Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise
Golpe transnacional da venda de aviões brasileiros com milionárias luvas - Nós sabemos os nomes dos passarões
As notícias omitem o nome do misterioso "Agente C" que recebeu de luvas 800 mil dólares mas nós consultamos o processo judicial e sabemos quem foi - quem foram os vários artistas.
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