21/09/2010

Aqui ninguém morreu (Parte I)

Ao pequeno Helio que quando voltava da
escola o pequeno projétil soprou-lhe os
ouvidos
Os meninos de Bié
De ranho e rabo seco
Voltaram as costas
Com as chamas invadiram a cidade
O pneu ardente queimou a nossa cidade

Nossa cidade pintada a cores
Negro branco e amarelo
O projéctil aceso e lustro
Vem rente a cabeça dos meninos de Bié
E zás…

Recolheram a arma do crime?
Os bandidos foram caçados?
Os marginais foram presos?
Os escravos libertos?
Houve produção e produtividade?

Os meninos de Bié
Arregaçaram as mangas
As pedras
Os paus
E ficaram a espera!

E o Judas veio
Com produção e produtividade
Ainda mesmo no nascer do segundo sol
Antes mesmo da segunda marcha
A caravana dos imbecis recuou
Recuou para sempre
Levou consigo
O seu machado de guerra
Para bem longe daqui

Mas deixou reluzente na flecha dos olhos
O corpo tombado do menino Hélio
E o grito seco do ndlate que ficou órfão para sempre
A debicar o último grão de trigo
Que ficou na floresta…

Pena!
Aqui ninguém morreu…

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