Senhor Ministro, diz-se que um excelente barómetro de aferição da doçura da população de uma aldeia é a forma como os cães são tratados pelos aldeões. Se os animais, na presença de um estranho, se encolherem perante uma festa ou se apresentarem assustadiços com a cauda entre as pernas, é sinal de que constantemente alguém lhes bate. São aquilo a que chamamos, na gíria canina, cães batidos. Estes animais apresentam-se infelizes, abatidos, cabisbaixos, ansiando por afectos de pessoas de fora. Se, pelo contrário, os animais saltam, brincam e abanam incessantemente a cauda perante um estranho, é sinal de que são bem tratados pelos aldeões. Diz-se então, quando se verifica a primeira reacção, que os aldeões não são boa gente. Ao invés, se a reacção for a segunda, aquela população é boa gente.
Senhor Ministro esta pequena nota introdutória vem a propósito de um trabalho de revisão linguística que foi realizado por um grupo de Lingüistas Bantu no INDE - Instituto Nacional de Desenvolvimento de Educação. O trabalho foi realizado no mês de Maio de 2010, e visava essencialmente proceder a revisão linguística dos livros da 5ª, 6 ª e 7 ª classes, das línguas nacionais, excluindo as seguintes: Chimaconde, Cinhanja, Kimuane e Swahili.
Senhor Ministro as pessoas envolvidas no trabalho efectuaram a revisão dos livros (durante sensivelmente 15 dias) sem qualquer vínculo contratual com o INDE, entidade contratante, algo inédito em situações desta natureza. No entanto passados 30 dias o INDE solicitou o grupo de linguistas para a assinatura de um contrato, que não chegou a ser facultada uma cópia a este grupo de linguistas. O contrato previa o pagamento a cada participante no trabalho o valor bruto de 52 000 Meticais.
Senhor Ministro, de Julho de 2010 a Junho de 2011 o grupo de linguistas não mais foi contactado, apesar de inúmeras vezes este ter solicitado algumas explicações sobre a lentidão do processo de pagamento do valor em causa.
Estranhamente no mês de Julho de 2011, o INDE solicita novamente o grupo de linguística para participar num seminário. Segundo o INDE o referido seminário seria para a revisão dos livros já revistos. A justificação do INDE para realização deste seminário serviria como “ arranjo” para o pagamento do valor em dívida, devido ao défice orçamental que a instituição atravessava.
De Julho a esta parte a informação que o INDEC fornece ao grupo de linguista é de que o Ministério de Educação seria o responsável pela elaboração dos contratos e respectivo pagamento do valor. No entanto, actualmente o INDE apresenta uma nova versão dos factos. Alega que o Ministério de Educação desconhece o paradeiro do dossier com os dados que permitiriam efectuar o pagamento.
Senhor Ministro, os factos apresentados revelam claramente a falta de vontade por parte dos contratantes (INDE e ME). Ademais fica-se uma ideia dúbia sobre quem tem a responsabilidade de efectuar o pagamento do valor em causa, se é o INDE ou o ME.
Senhor Ministro, o grupo de linguista pede uma explicação sobre as razões que estão por detrás de tentativa de escamotear a verdade dos factos. Pede uma singela explicação sobre os contornos que estão deixar claramente a ideia de que tanto o INDE como o ME, não está dispostos a proceder ao pagamento do valor ao grupo de linguistas envolvidos no trabalho de revisão de livros.
Senhor Ministro não é convivente a ideia de que já não há orçamento para se efectuar o pagamento, pois se isso for verdade, porquê é que o INDEC contratou o grupo para o trabalho, sabendo das dificuldades financeiras que a instituição atravessa. Não é convincente também a informação de que o dossier dos linguistas pura e simplesmente sumiu da circulação, isto começa a ficar desgastante e incómodo.
Senhor Ministro, não se estará mais uma vez perante aqueles casos em que os funcionários responsáveis pelo sector financeiro, se desviam das suas responsabilidades e colocam o valor nos seus bolsos ou contas bancárias pessoais, em detrimento dos que justamente merecem e têm direito.
Não será porque os nossos governantes (no caso concreto, os técnicos do INDE e do ME) se têm comportado como os aldeões que, cobardemente, tratam mal os cães? Não teremos nós, neste país, muitos cães demasiado batidos?
Senhor Ministro, o grupo de linguistas quer apenas avisar que a paciência já chegou ao fim. E tem uma forte confiança no Senhor Ministro, como responsável máximo da instituição, pois é capaz de encontrar uma solução para os pobres linguistas, que são sistematicamente usados e abusados e por fim jogados ao lixo, sem o mínimo de respeito.
E por fim, Senhor Ministro, o grupo de linguistas quer apelar aos promotores desta situação que tenham cuidado: à primeira oportunidade, a matilha de cães batidos, que cresce a um ritmo avassalador irá morder a mão do dono e deixar bem forte a raiva que circula nas suas veias.
E, nessa altura, ao contrário do que diz o secular provérbio árabe, os cães não irão deixar a caravana passar. Disso tem máxima certeza.
AVANTE CAMARADAS!
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